domingo, 21 de setembro de 2014

"E se mais mundo houvera, lá chegara"

Quando eu era pequena, ganhei uma máquina fotográfica preta daquelas baratinhas e um filme que me permitia 12 preciosos cliques. Eu tinha que escolher bem o que fotografar, pois não sabia quanto tempo demoraria para ser presenteada novamente com a dádiva de registrar 12 cenários. 

Na 4ª série, quando eu morava na pequena General Câmara e estudava em São Jerônimo, tivemos um trabalho em que deveríamos representar a cidade, a arte e o povo em fotos. Quando vi cada uma das minhas fotos reveladas, me senti uma verdadeira fotógrafa.

Acho que, se existisse internet naquela época, meus pais teriam sido blogueiros. Ele, os roteiros. Ela, as fotos e as legendas. Era assim nas nossas viagens. Foi desse jeito que preenchemos dezenas de álbuns, em que eu e minha irmã sorríamos de short e regata na alegria da praia ou de gorro, luva e cachecol em algum lugar bonito e frio.   

Não encontrei as fotos da 4ª série nos álbuns antigos para ilustrar o post, mas achei o título para essa postagem em uma das legendas. É um trecho dos Lusíadas.

Foi impressionante quando compramos nossa primeira câmera digital. Demorou, mas, quando a tivemos, era mágico poder fazer vários cliques e escolher o melhor. Na mesma hora. Sem ter que esperar pra revelar o filme e ver se alguém tinha piscado. 

Hoje em dia, quase todo mundo carrega uma câmera no celular. O dia está bonito? Seu café da manhã está vistoso? O trânsito está entediante? Você tem uma pilha de trabalho? Encontrou seus amigos na hora do almoço? Saiu mais cedo e conseguiu ir pra academia no final da tarde? Depois, foi jantar a dois? Tudo, absolutamente tudo, pode ser registrado e compartilhado instantaneamente: o céu azul pela janela da sala, a tapioca que você mesmo preparou, a avenida lotada pelo retrovisor, a papelada estressante na sua mesa, o encontro casual com pessoas queridas, a nova legging com o tênis de corrida e o restaurante bacana à luz de velas no aniversário de namoro. 

Às vezes, a gente fica na dúvida se fotografa ou se vive. Se a foto não ficou boa, a gente tira outra. Quase não se relevam mais as fotografias, pois o álbum do celular ou do facebook está mais ao alcance do que o porta-retrato.

Eu prefiro a liberdade de tirar todas as fotos que eu quiser (inclusive as de comida, oras!) e o encantamento de carregar os álbuns comigo, mas, de vez em quando, bate uma saudade de quando 12 cliques eram tão preciosos. 


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