Guia Brasil e infância

Escrevi em 29 de novembro de 2012:

"Não havia Google Maps, nem GPS no celular. Não faz tanto tempo, menos do que os meus 21 anos.

Entretanto, havia a estrada e, com ela, a "sensação de viagem". Ser acordada bem cedinho pelos meus pais, madrugada ainda, arrumar o "kit-viagem" com a minha irmã - gibis, papel, lápis, lanche -, ir sonolenta para o banco de trás do carro e, a partir daí, ficar apreciando a vista da janela - cidade, planície, planalto, montanha, floresta, coqueiral, plantação, céu azul, nublado, chuva, rio -, emaranhando os cabelos no vento, até descer amarrotada para esticar as pernas na hora do almoço, em algum lugar que parecesse melhorzinho na estrada. Depois, seguir viagem, mais um bocado de quilômetros até o destino, com todas as suas paisagens, história, sotaques, sabores, esperando para ser desvendado por nós. 

Se havia a estrada, mas não havia o Google pra gente jogar o nome da cidade e achar tudo sobre ela, havia o Guia Brasil, com toda uma coleção de hotéis, restaurantes e atrações e um mapa do Brasil inteiro de tinta e papel. Ele ficava ali, no porta-luvas, e nos acompanhava não só nas viagens reais, mas também naquelas que a gente imaginava. 

Depois de alguns anos, as palavras dos novos Guias foram se tornando menos verdadeiras e a Internet, mais completa. O último Guia comprado ficou aposentado até que, por necessidade ou nostalgia, revirei a estante tentando reencontrá-lo, mas não o achei. Fui à banca e comprei o 2013. Não se fazem mais Guias sinceros como antigamente, mas, ainda assim, valeu à pena pelo prazer de folhear novamente as suas páginas repletas de Brasil."

Meu Guia Brasil
Créditos: Rafa

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